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18/12/2020 às 05h45m - Atualizado em 18/12/2020 às 06h19m

Deputada é apalpada por colega na Assembleia Legislativa de São Paulo e denuncia assédio; deputado pede desculpas

Isa Penna (PSOL) estava de pé, diante da mesa da presidência da Casa, conversando com o presidente da Casa, quando o colega Fernando Cury (Cidadania) chegou por trás sem que ela percebesse.

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A deputada estadual Isa Penna (PSOL) subiu à tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo nesta quinta-feira (17) dizer que foi assediada pelo deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) no plenário da Casa. Um vídeo mostra o parlamentar se aproximando da colega por trás e apalpando-a.

Cury pediu a palavra após a exibição da gravação, negou ter cometido assédio e pediu desculpas por ter, segundo ele, abraçado a parlamentar.

Isa registrou um boletim de ocorrência contra o deputado e também levou ao Conselho de Ética da Assembleia uma representação pedindo que ele perca o mandato.

"Eu fui apalpada na lateral do meu corpo", relatou a deputada do PSOL, que defende bandeiras feministas, é bissexual e milita por causas ligadas aos direitos humanos e à igualdade de gênero. "O que dá o direito a alguém de encostar em uma parte do meu corpo, íntima? O meu peito é íntimo. É o meu corpo."

A situação ocorreu durante a sessão desta quarta-feira (16) na qual os deputados votavam o orçamento do estado para 2021. Isa estava de pé, diante da mesa da presidência da Casa, conversando com o presidente Cauê Macris (PSDB), quando o colega chegou por trás sem que ela percebesse.

No vídeo do momento, divulgado por assessores e deputados do PSOL, é possível ver que Isa tirou a mão de Cury e se desvencilhou dele.

Nas redes sociais, a deputada relatou que o deputado chegou perto dela e de Macris, que conversavam, após um outro parlamentar tentar demovê-lo da aproximação. "O deputado Cury, no entanto, ignora o gesto e se posiciona atrás de mim e apalpa meus seios, no que é imediatamente repelido por mim! E assim ocorre o assédio!"

Ao denunciar o caso, Isa disse que a violência política institucional contra as mulheres é frequente e apelou aos pares para que lutem contra o que chamou de cultura do assédio e do estupro.

"Imaginem vocês homens, quantas vezes por dia vocês têm medo de passar por uma situação dessas? De serem estuprados? Nós, que somos mulheres, desde pequena a gente é ensinada que isso pode acontecer com a gente, e a gente cresce com esse medo", discursou.

"Esse senso comum machista que é o do 'a roupa curta é um convite para o estupro' nem mesmo existia aqui. Eu sou uma deputada, eleita com 53 mil votos. Luto pelo direito das mulheres, luto contra o assédio. Eu não brinco com assédio."

"Eu sou uma jovem mulher eleita, eu tenho o direito de estar aqui sem ser apalpada, sem ser assediada", acrescentou.

Outras parlamentares foram ao microfone nesta quinta se solidarizar com Isa, defenderam que o caso seja investigado e criticaram o machismo.

Cury se disse triste e constrangido em ter que se pronunciar. "Gostaria de frisar a todos, principalmente as mulheres que estão aqui, que não houve, de forma alguma, da minha parte, tentativa de assédio, de importunação sexual ou qualquer outra coisa com algum outro nome semelhante a esse", afirmou.

"Eu nunca fiz isso na minha vida toda. [...] Mas, se a deputada Isa Penna se sentiu ofendida com o abraço que eu lhe dei, eu peço, de início, desculpa por isso. Desculpa se eu a constrangi. Desculpa se eu tentei, como faço com diversas colegas aqui, de abraçar e estar próximo", disse ele.

Cury afirmou que a deputada o procurou após o fato e que ele tentou se desculpar, mas não foi ouvido. "Tentei argumentar com ela, pedi desculpas. Entendo, estava nervosa, ficou brava. Cheguei hoje aqui no plenário [...], fui conversar com ela, começou a gritar, a me xingar."

"Não fiz por mal, nada de errado. O meu comportamento é o que tenho com as colegas e os colegas aqui", completou. "O que tem ali? Um abraço? O que eu fiz de errado? [Jamais faria algo] na frente do presidente [da Assembleia], meu Deus do céu", afirmou ele.

Isa chorou na tribuna, minutos antes, ao apelar ao presidente da Assembleia para que o vídeo da cena fosse mostrado no telão do plenário. Macris disse que o regimento interno não permitia a exibição, mas, diante das pressões, atendeu ao pedido.

Depois das falas de Isa e Cury, outros parlamentares discursaram sobre o assunto. Gil Diniz (sem partido) disse que não se podia "generalizar uma conduta individual, seja lá de quem for".

"Não podemos aceitar, no Poder Legislativo, que homens honrados sejam acusados de assediadores. Da maneira que estão colocando aqui, usando isso como escada... Respeito todas as mulheres aqui, mas generalizar, chamar todos de assediadores, usar essa situação como palanque político, nós temos que condenar", discursou Gil.

Mônica da Mandata Ativista (PSOL) rebateu a fala do parlamentar bolsonarista, o que levou a um bate-boca entre os dois no plenário. A sessão chegou a ser suspensa para que os ânimos se acalmassem.

Cury afirmou que não se opõe a que o caso seja examinado pelo Conselho de Ética da Casa e que se defenderá. Ele repetiu que não fez "nada de errado" e pediu aos colegas imparcialidade na análise do caso.

Em nota divulgada por sua assessoria, o parlamentar do Cidadania repetiu que "em nenhum momento
houve o sentido de desrespeitar a colega" e que se aproximou dela "sem incitação ou conotação de tal cunho relacionado à violência contra a mulher".

"No momento, ao perceber a reação da deputada Isa Penna, fiz questão de pedir desculpas para evitar qualquer mal-entendido. Logo no começo do vídeo divulgado, se exibido na íntegra, é possível ver que estou 'abraçado' a outro colega deputado, demonstrando assim que meu comportamento em nada tem a ver com a denúncia", declarou.

Cury afirmou ainda ser casado e pai de dois filhos. "Recrimino todo tipo de abuso e violência contra a mulher, e reforço meu respeito e luta para essa questão de grande relevância e destaque para nossa sociedade."

Nas redes sociais, Isa disse que casos semelhantes já ocorreram com colegas. "A violência política de gênero que sofri publicamente na Alesp, infelizmente, não é um caso excepcional", escreveu.

Segundo ela, as deputadas do PSOL Mônica da Mandata Ativista e Erica Malunguinho "já foram assediadas em ocasiões anteriores".

A bancada do partido divulgou um documento em que afirma repudiar "frontalmente o assédio sexual cometido pelo deputado". Os parlamentares escreveram que "a divulgação do vídeo deixou claro o crime e a quebra de decoro parlamentar cometidos pelo deputado, que vai responder pelos seus atos".

Em nota, a Assembleia paulista afirmou que, "com a denúncia da deputada, o Conselho de Ética fará avaliação do caso". A assessoria de Cauê Macris disse que a exibição de vídeos durante sessões ordinárias é proibida pelo regimento interno, mas, que, diante da gravidade do tema, o presidente da Casa consultou os líderes partidários, que concordaram com a exceção.

Fonte: Folha de São Paulo

 
 

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