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20/09/2023 às 07h17m - Atualizado em 20/09/2023 às 12h48m

Advogados de vítimas do caso Camaragibe pedem que grávida baleada seja transferida de hospital; família teme pela segurança

Oito pessoas morreram em menos de 24 horas. Grávida e primo dela, de 14 anos, foram baleados em tiroteio entre PMs e atirador.

mortes_de_pms-chachina-vitimas_da_violenciaVítimas de sequências de assassinatos em menos de 24 horas Pernambuco — Foto: Reprodução/WhatsApp

A grávida de 19 anos que foi baleada durante um tiroteio em Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife, perdeu a visão do olho esquerdo. A informação foi divulgada pelos advogados da família da jovem, que nesta terça-feira (19) foram ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, pedir proteção para os parentes da jovem e a transferência dela do Hospital da Restauração.

A gestante e um primo dela de 14 anos foram baleados numa troca de tiros entre policiais militares e Alex da Silva Barbosa, que matou os PMs Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, de 38 anos. Depois que os agentes morreram, cinco pessoas da família do atirador foram assassinadas e, depois, o próprio Alex também foi morto. As informações são do G1 PE.

O tiroteio que desencadeou a sequência de oito mortes aconteceu na casa em que Ana Letícia morava com a família. Segundo os parentes da grávida, ela foi feita de "escudo" pelo atirador. Os PMs, segundo o governo, verificavam denúncia de que um homem estaria em cima da laje de uma casa "dando tiros para cima numa comemoração".

Alex, segundo a família de Ana Letícia, estaria treinando tiros em uma mata. Ele não tinha antecedentes criminais e tinha uma arma de mira a laser que era registrada, pois ele era CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador).

O irmão de Ana Letícia, Carlos Augusto, disse que foi torturado por policiais depois que a irmã foi baleada. A família também disse que o carro que estava socorrendo a jovem foi alvo de tiros dados pela polícia.

"Hoje a família tem medo do que pode vir a acontecer e a gente veio pedir uma providência do estado", declarou a advogada Aline Maciel, que auxilia a família de Ana Letícia.

Os advogados informaram que o adolescente de 14 anos teve alta do Hospital da Restauração nesta terça-feira (19). Disseram, também, que pediram ao governo do estado que transfira a jovem de hospital.

"Pedimos a transferência [da grávida] para um hospital particular, para que ela tenha uma segurança mais restrita. Em momento algum estamos desmerecendo o trabalho dos profissionais da Restauração, mas a gente sabe que é um hospital de referência e, por conta dessa referência, o entra e sai é muito grande e o controle é mais difícil. Num hospital particular é possível controlar quem entra e quem sai", afirmou a advogada", declarou.

A advogada Aline Maciel também afirmou que Ana Letícia deve ficar com sequelas deixadas pelo tiro.

"Ela está estabilizada, mas está intubada. Ela tem epilepsia e o médico já falou que ela vai perder a visão do lado do tiro, mas provavelmente esse lado vai estar todo paralisado. Provavelmente haverá sequelas, mas ele não consegue dimensionar. O bebê está bem", afirmou.

Em seguida, os advogados foram à sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde se reuniram com representantes da Comissão de Direitos Humanos da ordem e do Conselho Estadual de Direitos Humanos. O presidente da comissão, Renan Castro, disse que vai prestar apoio à família.

"Há relatos de ameaça de morte que a gente tem que levar muito a sério e procurar a estrutura do estado e os programas de proteção aos direitos humanos e garantir que nenhuma vida a mais seja ceifada", declarou Castro.

Resposta

Questionado sobre o pedido dos advogados, o governo de Pernambuco informou que, desde que tomou conhecimento do caso, "ofereceu atendimento psicossocial e jurídico aos envolvidos" e que, "por motivo de segurança e previsão legal, o tipo de trabalho prestado, bem como as especificidades da proteção e o nome das pessoas protegidas não poderão ser expostos".

Também informou que as investigações sobre as mortes "estão em curso, através da Secretaria de Defesa Social, sob o comando do Grupo de Operações Especiais (GOE)".

Entenda o caso

  • Na noite da quinta-feira (14), os PMs Eduardo Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, de 38 anos, foram até Tabatinga verificar uma denúncia de que um homem estava em cima de uma laje "dando tiros para cima em uma comemoração";
  • Alex da Silva Barbosa não tinha antecedentes criminais e tinha uma arma de mira a laser que era registrada, pois ele era CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador);
  • Ao ver os policiais se aproximando, ele teria atirado na cabeça de ambos. No tiroteio, ficaram feridos uma grávida de sete meses e um adolescente de 14 anos;
  • No mesmo bairro, por volta das 2h da sexta-feira (15), três irmãos de Alex foram baleados por homens encapuzados: Ágata Ayanne da Silva, de 30 anos; Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25 anos;
  • Ágata e Amerson morreram no local; Apuynã foi socorrido para o Hospital da Restauração, no bairro do Derby, no Recife, mas morreu no local;
  • O crime foi transmitido ao vivo no Instagram;
  • Na manhã da sexta, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e de Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27 anos, esposa dele, foram encontrados num canavial em Paudalho, na Zona da Mata Norte;
  • Horas depois, por volta das 11h, durante buscas da Polícia Militar, o suspeito Alex Silva foi localizado em Tabatinga, trocou tiros com o efetivo e foi morto.

Fonte: G1 Pernambuco

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