12/07/2017 às 09h32m - Atualizado em 12/07/2017 às 12h14m
Senado aprova reforma trabalhista; texto segue para sanção de Temer
Sessão foi marcada por ato de senadoras, que ocuparam a Mesa Diretora por mais de 6 horas. Luzes do plenário foram desligadas e sessão foi retomada
Após mais de 11 horas de sessão, marcada por uma série de tumultos em plenário, o Senado aprovou no fim da noite desta terça-feira (11) a reforma trabalhista (leia ao final desta reportagem o que o projeto prevê).
Os senadores aprovaram o chamado texto-base por 50 votos a 26 e, em seguida, analisaram três destaques (sugestões de alteração à proposta original). Todos foram rejeitados.
Enviado pelo governo no ano passado, o projeto muda trechos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e prevê pontos que poderão ser negociados entre empregadores e empregados e, em caso de acordo coletivo, passarão a ter força de lei.
Como os destaques foram rejeitados, a reforma, já aprovada pela Câmara dos Deputados, seguirá para sanção do presidente Michel Temer.
Segundo senadores da base, o presidente se comprometeu com alguns parlamentares a alterar trechos controversos do projeto.
Depois da publicação no "Diário Oficial da União", pela Presidência da República, haverá um prazo de quatro meses para a entrada das novas regras em vigor.
Pela proposta, a negociação entre empresas e trabalhadores prevalecerá sobre a lei em pontos como parcelamento das férias, flexibilização da jornada, participação nos lucros e resultados, intervalo de almoço, plano de cargos e salários e banco de horas.
Outros pontos, como FGTS, salário mínimo, 13º salário, seguro-desemprego, benefícios previdenciários, licença-maternidade, porém, não poderão ser negociados.
Sessão tumultuada
A sessão do Senado para discutir a reforma trabalhista foi aberta às 11h desta terça.
Uma hora depois, a sessão foi interrompida após senadoras contrárias à proposta ocuparem a mesa do plenário, local onde se senta o presidente da Casa e os demais integrantes da Mesa Diretora.
Eunício tentou dar início à votação, mas foi impedido de se sentar no lugar. Com isso, decidiu suspender os trabalhos. Após a decisão, ele se recolheu no gabinete e recebeu vários parlamentares da base e da oposição para tentar chegar a um acordo.
Depois de mais de seis horas, por volta das 18h10, o presidente do Senado retornou ao plenário e deu um prazo de dez minutos para que as senadoras deixassem a mesa. Como elas se mantiveram no local, ele se sentou em uma outra cadeira.
Às 18h44, depois de ter iniciado o processo de votação, mesmo com protestos da oposição, Eunício conseguiu retomar a cadeira da presidência do Senado. Ele, então, decidiu dar tempo para que os líderes encaminhassem como os senadores dos partidos deveriam votar.
Sobrevida política
Aliados de Temer têm avaliado que a aprovação da reforma pode dar uma espécie de sobrevida política ao presidente.
Com base nas delações de executivos do grupo J&F, que controla a JBS, Temer foi denunciado pela Procuradoria Geral da República pelo crime de corrupção passiva.
O relator da denúncia, atualmente em análise na Câmara, Sergio Zveiter (PMDB-RJ), recomendou nesta segunda (10) o prosseguimento do processo.
Diante da maior crise política enfrentada pelo governo desde que Temer assumiu, senadores da base aliada apostam que, se o Congresso aprovar a reforma trabalhista, a medida será uma sinalização ao mercado de que Temer ainda tem condições de dar continuidade a outras reformas, como a da Previdência Social (em análise na Câmara).
O que diz a oposição
Parlamentares contrários ao projeto, por outro lado, têm criticado o Senado por não alterar o projeto enviado pela Câmara, o que chamam de "omissão".
A oposição também afirma que a reforma retira direitos e precariza as condições e relações de trabalho.
Parlamentares contrários ao governo passaram a buscar, na sessão desta terça, mudar o projeto e, por isso, apresentaram três sugestões que terão de ser votadas pelo plenário.
Ponto a ponto
Saiba abaixo, ponto a ponto, o que prevê o texto-base da reforma trabalhista:
- ACORDOS COLETIVOS
Terão força de lei e poderão regulamentar, entre outros pontos, a jornada de trabalho de até 12 horas, dentro do limite de 48 horas semanais, incluindo horas extras.
Parcelamento das férias, participação nos lucros e resultados, intervalo, plano de cargos e salários, banco de horas também poderão ser negociados.
Pontos como FGTS, salário mínimo, 13º salário, seguro-desemprego, benefícios previdenciários, licença-maternidade e normas relativas à segurança e saúde do trabalhador não poderão entrar na negociação.
Atualmente, acordos coletivos não podem se sobrepor ao que é previsto na CLT.
- JORNADA PARCIAL
Poderá ser de até 30 horas semanais, sem hora extra, ou de até 26 horas semanais, com acréscimo de até seis horas (nesse caso, o trabalhador terá direito a 30 dias de férias).
Atualmente, a jornada parcial de até 25 horas semanais, sem hora extra e com direito a férias de 18 dias.
- PARCELAMENTO DE FÉRIAS
As férias poderão ser parceladas em até três vezes. Nenhum dos períodos pode ser inferior a cinco dias corridos e um deles deve ser maior que 14 dias (as férias não poderão começar dois dias antes de feriados ou no fim de semana).
Atualmente, as férias podem ser parceladas em até duas vezes. Um dos períodos não pode ser inferior a dez dias corridos.
- GRÁVIDAS E LACTANTES
Poderão trabalhar em locais insalubres de graus "mínimo" e "médio", desde que apresentem atestado médico. Em caso de grau máximo de insalubridade, o trabalho não será permitido.
Atualmente, grávidas e lactantes não podem trabalhar em locais insalubres, independentemente do grau de insalubridade.
- CONTRIBUIÇÃO SINDICAL
Deixará de ser obrigatória. Caberá ao trabalhador autorizar o pagamento.
Atualmente, é obrigatória e descontada uma vez por ano diretamente do salário do trabalhador.
- TRABALHO EM CASA
A proposta regulamenta o chamado home office (trabalho em casa).
Atualmente, esse tipo de trabalho não é previsto pela CLT.
- INTERVALO PARA ALMOÇO
Se houver acordo coletivo ou convenção coletiva, o tempo de almoço poderá ser reduzido a 30 minutos, que deverão ser descontados da jornada de trabalho (o trabalhador que almoçar em 30 minutos poderá sair do trabalho meia hora mais cedo).
Atualmente, a CLT prevê obrigatoriamente o período de 1 hora para almoço.
- TRABALHO INTERMITENTE
Serão permitidos contratos em que o trabalho não é contínuo. O empregador deverá convocar o empregado com pelo menos três dias de antecedência. A remuneração será definida por hora trabalhada e o valor não poderá ser inferior ao valor da hora aplicada no salário mínimo.
Atualmente, a CLT não prevê esse tipo de contrato.
- AUTÔNOMOS
As empresas poderão contratar autônomos e, ainda que haja relação de exclusividade e continuidade, o projeto prevê que isso não será considerado vínculo empregatício.
Atualmente, é permitido a empresas contratar autônomos, mas se houver exclusividade e continuidade, a Justiça obriga o empregador a indenizar o autônomo como se fosse um celetista.
Compromisso de Temer
Durante a tramitação da reforma, o líder do governo no Senado, Romero Jucá, comunicou aos senadores que Michel Temer havia se comprometido a fazer algumas mudanças nos pontos mais controversos da proposta.
Entre os trechos que Jucá afirma que Temer vai modificar, está o que trata do trabalho intermitente. Segundo o peemedebista, a hipótese de pagamento de multa de 50% do valor que seria pago será "afastado".
Outro ponto que, segundo Jucá, será alterado é o que permite que por acordo individual possa ser estabelecida a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso.
Essa modalidade só poderá ser estabelecida por acordo coletivo ou convenção coletiva, respeitadas leis específicas que permitam a aplicação desse tipo de jornada por acordo individual.
O presidente, segundo Jucá, comprometeu-se ainda a alterar o artigo sobre gestantes e lactantes em locais insalubres. Em vez de o atestado para afastar gestantes e lactantes dos locais de insalubridade mínima e média ser expedido por "médico de confiança", o atestado será emitido por médico do trabalho.
Conforme o líder do governo, Temer deverá alterar ainda o projeto aprovado para vedar cláusula de exclusividade em contratos com trabalhadores autônomos.
Fim de sessão
Enquanto os senadores analisavam o terceiro e último destaque - que, se aprovado, vedaria a possibilidade de grávidas e lactantes trabalharem em locais insalubres - o clima voltou a ficar tenso no plenário.
Ao anunciar voto a favor da mudança, Humberto Costa (PT-PE), disse que era "inaceitável" as senadoras Simone Tebet (PMDB-MS), Marta Suplicy (PMDB-SP) e Ana Amélia (PP-RS) apoiarem o trecho que, na visão de Costa, "submete a mulher a condições de trabalho inadequadas".
Eunício Oliveira, então, concedeu a palavra às parlamentares. Ana Amélia disse, por exemplo, que ninguém tinha autoridade para "colocar canga" no pescoço dela. A senadora afirmou, também, que parlamentares da oposição estavam fazendo "discurso hipócrita".
Senadores da oposição, em seguida, vaiaram a parlamentar e Fátima Bezerra (PT-RN), que sentou na cadeira de Eunício o impedindo de ocupar o lugar mais cedo, começou a bater boca com Ana Amélia.
Eunício se irritou com Fátima Bezerra e disse que ela havia "ultrapassado todos os limites" nesta terça. Aos gritos, Eunício disse que a petista deveria aprender a "respeitar a democracia".
Diante da fala do presidente do Senado, petistas reagiram e houve muita gritaria no plenário.
Na sequência, Simone Tebet (PMDB-MS) criticou Humberto Costa. Ele, então, pediu direito de resposta, mas Eunício negou. O petista protestou.