23/04/2021 às 14h10m - Atualizado em 23/04/2021 às 19h52m
Corpos são trocados por funerárias em Recife
Família descobre que parente foi enterrado no lugar de outro homem e pede exumação à Justiça. Funerárias lamentaram ocorrido e Polícia Civil abriu investigação sobre o caso.
Dois homens tiveram os corpos trocados pelas funerárias, no Recife. Um deles, Luiz Fernando da Silva Filho, foi enterrado como Júlio Firmino André da Silva. O sepultamento ocorreu no Cemitério de Santo Amaro, no Centro da cidade, e, agora, as famílias esperam uma decisão judicial para poder consertar o erro.
Procuradas pelo G1, as funerárias responsáveis pelos sepultamentos afirmaram que estavam dando apoio para resolver o problema (veja resposta mais abaixo). O caso é investigado pela Polícia Civil. O corpo de Júlio Firmino não havia sido enterrado até esta sexta (23).
A troca foi descoberta pela família de Luiz Fernando da Silva Filho, conhecido como Seu Luizinho, que morava com a esposa e a filha em Peixinhos, em Olinda. O comerciante, que tinha 59 anos, morreu na madrugada da segunda-feira (19) e, segundo a família, sofreu um infarto fulminante e foi enterrado como sendo Júlio Firmino.
"Ele morreu dormindo. Chamamos o Samu e, quando eles chegaram, disseram que já tinha morrido. O corpo tinha manchas roxas que indicavam infarto fulminante. Eu o vesti com uma camisa branca e chamei a funerária, junto com minha tia. Não tinha vaga nos cemitérios, por isso, ele foi levado para um laboratório", declarou Lilian Félix da Silva, filha de Seu Luizinho.
A vaga só foi aberta na quarta-feira (21), no Cemitério de Águas Compridas, em Olinda. O erro foi identificado por volta das 14h, quando o corpo chegou para o velório.
"Vimos logo que não era ele. A mulher da funerária disse que ele estava inchado e podia estar diferente. Afastamos as flores e a camisa era listrada, não era a que pusemos nele, e ele tinha um esparadrapo no pescoço, como se fosse uma traqueostomia", disse Lilian Félix.
A funerária Morada da Luz, localizada em Santo Amaro, no Centro do Recife, estava responsável pelo sepultamento de Seu Luizinho. A mesma empresa é dona do laboratório de somato conservação em que os corpos ficaram. A Walcaldas, na Mustardinha, Zona Oeste da capital, foi contratada para enterrar Júlio Firmino.
Até então, não se sabia onde estava o corpo de Seu Luizinho, nem de quem era o cadáver entregue à família do comerciante para ser velado.
Lilian Félix contou que, na parte da noite, a funerária Morada da Luz informou à administração do Cemitério de Águas Compridas que o corpo de Seu Luizinho havia sido velado por outra família e enterrado no Cemitério de Santo Amaro. Foi através da administração do Cemitério de Águas Compridas que a filha soube o que ocorreu com o corpo do pai.
"Disseram que a outra família achou estranho, mas que receberam a mesma informação, de que o corpo estava diferente devido aos procedimentos de conservação. Entramos na Justiça pedindo um alvará para exumar o corpo e enterrar meu pai", afirmou a filha de Seu Luizinho.
O pedido de exumação foi feito pela advogada Juliene Fernandes e tramita na 3ª Vara de Família e Registro Civil da Comarca de Olinda, em segredo de Justiça. No entanto, o G1 teve acesso ao processo com autorização da família.
Um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia de Peixinhos, denunciando a troca de corpos, e um inquérito policial foi aberto para investigar o caso.
"A família foi furtada do direito de velar o corpo de seu ente querido. Nossa pressa, agora, é para conseguir exumar e poder sepultar Seu Luizinho. Temos um corpo que está há três dias em fase de decomposição e a família vai ter que, além de rever o cadáver, vê-lo nessas circunstâncias", afirmou a advogada.
O caso está sob a responsabilidade da juíza Isabelle Moitinho Pinto. Nesta sexta-feira (23), ela emitiu um despacho solicitando documentos para comprovar a necessidade da exumação.