05/04/2024 às 00h56m
- Atualizado em
05/04/2024 às 05h50m
Em sua segunda agenda em Pernambuco na tarde desta quarta-feira (4), o presidente Lula (PT), ao lado da ministra da Saúde Nísia Trindade, da governadora Raquel Lyra (PSDB), e da presidente da Hemobrás, Ana Paula Rego Menezes, participou da inauguração da Fábrica de Medicamentos da Hemobrás em Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco.
Atrasado e buscando economizar tempo, Lula cortou o próprio improviso para se ater ao discurso escrito sobre a importância da inauguração. “A criação desta planta não marca apenas o início da produção nacional do parque industrial da Hemobrás, mas uma resposta completa da estratégia do desenvolvimento do complexo econômico-industrial da saúde, que lançamos ano passado, para expandir a produção nacional de itens prioritários para o SUS (Sistema Único de Saúde) e reduzir a dependência de insumos, medicamentos, vacinas e outros produtos estrangeiros”, disse.
O presidente aproveitou a oportunidade para defender a ciência e o SUS, se dirigindo em especial ao público jovem. “À juventude, que muitas vezes só ouve falar do SUS na televisão sobre pessoas que não foram atendidas ou alguém que morreu na fila, e não da quantidade de coisas boas que o SUS faz: é importante cada brasileiro ter ciência para ter orgulho. Não existe país no planeta Terra com mais de 100 milhões de habitantes que tenha um sistema de saúde único, universal, como o SUS. 99% dos transplantes feitos no país, inclusive por gente rica, é feito pelo SUS. E isso nunca é divulgado", discursou.
Relembrando a agenda anterior, em Arcoverde, Sertão do estado, a governadora Raquel Lyra expressou sua felicidade em, resolvido um "problema do século passado" como a seca no interior, poder falar do futuro da ciência e da saúde em Pernambuco. “É muito bom poder falar de futuro na Mata Norte do estado, região canavieira. Enxergar o Brasil falando com autonomia sobre produção importante do nosso completo científico, farmacêutico, industrial, a geração de emprego e renda para essa população que não tinha perspectiva, a diversificação da nossa matriz econômica. Onde temos filhos de lavradores e cortadores de cana, agora temos meninos e meninas, homens e mulheres trabalhando na indústria farmacêutica", afirmou.
A fábrica vai produzir o recombinante Hemo-8r, medicamento usado para tratamento da hemofilia tipo A. A planta fabricará medicamentos produzidos por biotecnologia.
A novidade vai trazer benefício e qualidade de vida para as pessoas portadoras de hemofilia, condição rara, que leva a não coagulação do sangue. No Brasil, são 12 mil pessoas portadoras da doença, que dependem do remédio de uso continuado.
O paraibano João Pedro Dias, 23, descobriu a hemofilia com poucos meses de idade, e cresceu sem desfrutar de uma infância convencional e enfrentando preconceitos. "Descobri a doença muito novo, devido a um hematoma. Minha mãe, com depressão pós-parto, foi julgada pela primeira médica que passou, que a acusou de ter me batido. Depois de uma segunda opinião médica, ela me levou no Hemoíba (Hemocentro da Paraíba), e descobri a hemofilia. Eu não podia jogar bola, brincar. Passava o dia todo em casa", revelou.
João Pedro aplica sozinho, três vezes na semana, o Hemo-8r adquirido pelos hemonúcleos da Hemobrás, para previnir episódios hemorrágicos. "Depois de 10 anos, pude retornar a vida normal, praticar esportes e viajar", contou.
Em seu discurso, Lula lembrou do cartunista e jornalista, Henrique de Sousa, o Henfil e do irmão dele, o sociólogo Hebert José de Sousa, conhecido como Betinho. Os dois eram hemofílicos e morreram após contraírem HVI, através de transfusões de sangue para tratar a hemofilia.
“Em meio à luta por um país melhor, Betinho e Henfil também travaram uma dura batalha contra as consequências e complicações da hemofilia. Era um tempo em que as pessoas com hemofilia sofriam com a falta de tratamento profilático, constantes internações e transfusões de sangue. Uma época em que não tínhamos ainda o rigor de hoje na coleta e destinação das doações de sangue. Perdemos vidas precocemente por não termos tratamento adequado aos portadores de hemofilia", afirmou o presidente.
Com a inauguração, o Brasil passará a ter soberania no setor da indústria farmacêutica. Só na dependência de importação o Brasil vai economizar R$ 1 bilhão por ano e com preços 30% menores para o SUS. Atualmente o Hemo-8r é produzido por meio de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), porém com a produção brasileira, a expectativa é que haja a redução de 30% no valor do remédio.
A nova fábrica da Hemobrás terá uma capacidade para a produção anual de 1,2 bilhão de UIs (medida internacional usada na indústria farmacêutica) de Fator VIII recombinante. A previsão é de que até 2025 a nova fábrica esteja em atividade com distribuição de produtos para o SUS.
O processo de desenvolvimento do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) vai ser desenvolvido por biotecnologia a partir de 2025 e a expectativa é de que até o final do ano essa etapa esteja concluída. De acordo com a Hemobrás, em janeiro de 2026 o produto deve começar a ser oferecido em toda a sua linha de produção no mercado nacional.
Na comitiva presidencial, estava também a primeira-dama Janja, o prefeito do Recife, João Campos, o governador da Paraíba, João Azevedo, o ministro de Desenvolvimento Regional Waldez Góes, o ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha, o ministro da Pesca e Aquicultura André de Paula, a ministra de Ciências, Tecnologia e Inovação Luciana Santos, e o ministro de Portos e Aeroportos Silvio Costa Filho, além dos senadores Humberto Costa (PT), Teresa Leitão (PT) e Fernando Dueire (MDB)
Também estão presentes na solenidade o prefeito de Goiana, Eduardo Honório (União Brasil), os deputados federais Luciano Bivar (União Brasil), Lula da Fonte (PP), Clodoaldo Magalhães (PV), Iza Arruda (MDB) e Maria Arraes (Solidariedade), além do suplente de Teresa Leitão no Senado, Silvio Costa.